quinta-feira, 31 de outubro de 2013

NOVO ESCANDALO DA IGREJA UNIVRESAL

NOVO ESCÂNDALO DA IGREJA UNIVERSAL  
Vídeo que a universal não quer que você veja

ORANDO POR QUEM FAZ









        
Meus Caros amigos do Blog, hoje viemos pedir suas orações pelo Pastor João Alfredo e toda a equipe ministerial  da Igreja Presbiteriana de Tampa Bay, irmãos nossos que ali tem levado a palavra de Deus para quem tanto precisa, que possamos assumir o compromisso de orar por eles, enquanto estamos pregando o Evangelho aqui no Brasil, eles fazem o mesmo nos EUA.

CONHEÇA A IGREJA PRESBITERIANA

I – É Igreja Cristã - A Igreja Presbiteriana faz parte da Igreja Universal de Cristo e, como tal, é Igreja histórica. Baseia-se unicamente nos ensinos de Jesus Cristo e dos seus apóstolos.

É da Igreja Apostólica, ou seja, da Escritura a sua forma de governo.

A Bíblia, muitos de seus hinos, suas doutrinas e seu sistema de governo são ricas heranças de mais de 1900 anos de experiência cristã.

É Igreja que aceita e celebra os dois sacramentos instituídos pelo Senhor Jesus: o Batismo (Para o crente e seus filhos) e a comunhão (Ceia do Senhor ou Santa Ceia).

É Igreja também herdeira da grande reforma do século XVI, ocorrida na Europa e é dessa reforma que provêm o seu grande amor à liberdade, seu zelo pela verdade e seu apego fiel à Palavra de Deus.

II – Crê em Deus - Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus, que subsiste eternamente em três pessoas, iguais em poder, amor, santidade, razão por que só a ele deve ser prestado todo o culto e adoração.

III – Aceita o CREDO APOSTÓLICO, como súmula de sua expressão de fé, assim expresso:

“Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos; foi morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao céu; está sentado à direita de Deus Pai, Todo-Poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo. Na Santa Igreja Universal. Na comunhão dos santos. Na remissão dos pecados. Na ressurreição do corpo. Na vida eterna.”

IV – Aceita a Bíblia como única regra de fé e prática dada por Deus e considera falsas e perigosas todas as doutrinas e cerimônias contrárias às Sagradas Escrituras.

V – Reconhece o direito que seus membros têm de ler a respeito de outras religiões ou filosofias, pois confia na supremacia da revelação de Deus por meio das Sagradas Escrituras, através da ação iluminadora do Espírito Santo.

VI – Coopera com as demais Igrejas Evangélicas em divulgar a Bíblia, a Palavra de Deus, pois nela o homem, iluminado pelo Espírito Santo, pode encontrar o seu Salvador pessoal - Jesus Cristo.

Coopera também, com os que, em obediência a Deus, amam ao próximo e procuram dar-lhe assistência, praticando toda a boa obra para um mundo melhor.

VII – Proclama que Jesus Cristo é o único Salvador de todo aquele que nele crê. Somente pela fé o pecador recebe a salvação da sua alma.

Jesus disse:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
(João 3:16)

E ainda:
“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14:6)

VIII – Proclama que Jesus Cristo é o cabeça da Igreja e também a pedra sobre a qual a Igreja é edificada. Portanto, ela não pode levantar barreiras entre Deus e seu povo. Seu povo lhe pertence, sem necessidade de nenhum intermediário além de Jesus Cristo. Pedro assim disse sobre Jesus:

“E não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.“
(Atos 4:12)

IX – Proclama que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, como afirmou o apóstolo Paulo. Proclama, no entanto, que a salvação é alcançada tão somente pela graça redentora de Deus, que tomou a iniciativa da busca e reconciliação do homem pecador. Por isso convida a todos para conhecerem o plano de Deus para a salvação, visitando e participando dos cultos e das Escolas Dominicais nos seus templos, para adorar a Deus e também conhecer a sua vontade, pelo estudo das Sagradas Escrituras.

X – Proclama o convite de Jesus:

“Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou humilde e manso de coração e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e meu fardo é leve.” (Mateus 11:20-30)

“Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (João 6:35, 37)



Por: Ministério Geração Reformada

A REFORMA CALVINISTA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA A PREGAÇÃO E A LITURGIA

Alderi Souza de Matos

I. DEFINIÇÃO DE TERMOS
Inicialmente, é importante considerar as três designações que têm sido aplicadas aos herdeiros da Reforma Suíça: “reformados”, “calvinistas” e “presbiterianos”. Esses conceitos são semelhantes em alguns aspectos e diferentes em outros.

1. Reformados
A Reforma Protestante começou na Alemanha, em 1517, com o monge Martinho Lutero (1483-1546). Os seus seguidores logo passaram a ser conhecidos como “luteranos”. Poucos anos depois, surgiu em um país vizinho, a Confederação Suíça, um novo movimento protestante, independente do movimento de Lutero, que, para distinguir-se deste, passou a ser denominado como “reformado”. Essa designação resultou do entendimento de que a “Segunda Reforma” ou “Reforma Suíça” estava realizando uma obra de renovação da igreja mais profunda e radical do que aquela proposta por Lutero. Inicialmente, o movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Ulrico Zuínglio (1484-1531). Porém, com a morte prematura deste, o movimento veio a associar-se com o seu maior teólogo e articulador, o francês João Calvino (1509-1564).

Portanto, o movimento reformado é o ramo do protestantismo que surgiu na Suíça do século 16, tendo como líderes originais Ulrico Zuínglio, em Zurique, e especialmente João Calvino, em Genebra. Esse movimento veio a caracterizar-se por certas concepções teológicas e formas de organização eclesiástica que o distinguiram de todos os demais grupos protestantes da época (luteranos, anabatistas e anglicanos). A tradição reformada foi preservada e desenvolvida pelos sucessores imediatos ou mais remotos dos líderes iniciais, tais como João Henrique Bullinger (1504-1575), Teodoro Beza (1519-1605), os puritanos ingleses e outros.

Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como Igrejas Reformadas (da Suíça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países). Porém, o termo “reformado” é mais que a designação de uma tradição teológica ou eclesiástica. É um conceito abrangente que inclui todo um modo de encarar a vida e o mundo a partir de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus. Daí falar-se também em “fé reformada”, “cosmovisão reformada”, etc.

2. Calvinistas

O calvinismo, como o nome indica, é o sistema de teologia elaborado pelo mais brilhante e profundo dentre os reformadores, João Calvino. Esse sistema, contido especialmente na principal obra de Calvino, a Instituição da Religião Cristã ou Institutas, resulta de uma interpretação cuidadosa e sistemática das Escrituras, e tem como um de seus principais fundamentos a noção da absoluta soberania de Deus como criador, preservador e redentor. O calvinismo não é somente um conjunto de doutrinas, mas inclui concepções específicas a respeito do culto, do governo eclesiástico e da missão da igreja.

Normalmente, todos os reformados deveriam ser calvinistas, mas isso nem sempre ocorre na prática. Muitos herdeiros de Calvino, embora se considerem reformados, não mais se designam ou podem ser designados como calvinistas, por terem abandonado certas convicções e princípios básicos defendidos pelo reformador. Portanto, todo calvinista é reformado, mas nem sempre a recíproca é verdadeira.

3. Presbiterianos

O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o protestantismo foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja teve uma importância preponderante. Os reis ingleses e escoceses preferiam o sistema episcopal, ou seja, uma igreja governada por bispos e arcebispos, o que permitia um maior controle da igreja pelo Estado. Já o sistema presbiteriano, isto é, o governo da igreja por presbíteros eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um governo mais democrático e autônomo em relação aos governantes civis. Das Ilhas Britânicas, o presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do mundo, inclusive o Brasil.

Daí resulta outra distinção importante. Todo presbiteriano é, por definição, reformado e, em teoria, calvinista. Porém, nem todos os calvinistas são presbiterianos. Um bom exemplo é a Inglaterra dos séculos 16 e 17. Um grande número de protestantes ingleses daquela época eram calvinistas, mas muitos deles não aceitavam o sistema de governo presbiteriano. Entre eles estavam os congregacionais, os batistas e muitos anglicanos.

II. ORGANIZADORES INICIAIS

1. O fundador da tradição reformada: Ulrico Zuínglio (1484-1531)

· 1484: Zuínglio nasceu no dia 1° de janeiro, poucos meses após o nascimento de Martinho Lutero. Tornou-se sacerdote católico e foi influenciado pelo humanismo renascentista.

· 1515-1517: conheceu Erasmo de Roterdã e leu a sua edição do Novo Testamento grego acompanhado de uma tradução latina.

· 1518-1519: após trabalhar em Glarus, foi nomeado “sacerdote do povo” na principal igreja de Zurique e começou a pregar uma série de sermões sobre o Novo Testamento, iniciando no Evangelho de Mateus.

· 1522-1523: manteve as primeiras controvérsias teológicas: sobre o jejum da quaresma e o celibato clerical. Apresentou os Sessenta e Sete Artigos em um debate público promovido pelas autoridades civis.

· 1525: publicou o Comentário sobre a Verdadeira e a Falsa Religião, insistindo na abolição da missa; foi instituído em seu lugar o culto evangélico. Zuínglio rompeu com os anabatistas.

· 1529: participou do Colóquio de Marburg, na Alemanha, ao lado de Lutero e outros reformadores.

· 1531: morreu aos 47 anos na segunda batalha de Kappel, contra os cantões católicos.

(a) Ênfases teológicas de Zuínglio

· A centralidade das Escrituras: a Reforma de Zurique começou com um retorno às fontes da fé cristã na Bíblia. Zuínglio afirmou: “Eventualmente cheguei ao ponto em que, dirigido pela Palavra e pelo Espírito de Deus, vi a necessidade... de aprender a doutrina de Deus diretamente da sua Palavra”. A igreja seria purificada e reformada através do estudo e da pregação das Escrituras. Essa ênfase da Reforma Suíça numa reforma segundo a Palavra de Deus é a fonte do termo “reformado”.

· O princípio regulador: na aplicação das Escrituras à vida da igreja, os reformadores suíços foram mais radicais do que Lutero. Este queria eliminar da vida da igreja tudo o que fosse condenado pelas Escrituras; Zuínglio e seus colegas insistiram que toda crença e prática cristã devia ter justificativa expressa na Palavra de Deus.

· A Ceia do Senhor: para Zuínglio, a Ceia não era um sacrifício, mas a recordação de um sacrifício, isto é, um memorial do que Jesus Cristo havia feito na cruz e uma oportunidade para os crentes reafirmarem a sua fé. Os elementos da Ceia eram apenas símbolos do corpo e do sangue de Cristo. Esse foi o ponto de maior divergência entre Zuínglio e Lutero no Colóquio de Marburg, em 1529.

· A justificação pela fé: Zuínglio concordava com Lutero que a justiça de Cristo é imputada ou atribuída ao crente; mas esse entendimento forense não era suficiente: a justiça de Cristo também devia ser infundida no cristão. Em outras palavras, o crente não apenas é declarado justo, mas precisa tornar-se moralmente justo.

· A lei de Deus: Zuínglio também discordou de Lutero quanto à função da lei, porque para ele a lei tinha um papel permanente na vida do cristão. Ele não fez oposição entre lei e evangelho, mas incluiu a lei dentro do evangelho, como um instrumento de santificação.

(b) Sucessores
· Zuínglio foi sucedido por João Henrique Bullinger (1504-1575), um pastor e teólogo hábil e criativo. Ele subscreveu com Calvino o Consenso Tigurino (1549), um acordo sobre a Ceia do Senhor. Escreveu muitas obras, sendo mais conhecido como o autor da Segunda Confissão Helvética (1566), um documento moderado que foi aceito por muitas igrejas reformadas da Europa. Alguns tópicos importantes do seu pensamento são: o pacto, a comunidade cristã, as funções do magistrado e do ministro, a Santa Ceia. Outro teólogo importante da tradição zuingliana foi João Ecolampádio (1482-1531), o reformador de Basiléia.

2. O consolidador da tradição reformada: João Calvino (1509-1564)
· 1509 – Calvino nasceu no dia 10 de julho em Noyon, uma pequena cidade no nordeste da França. Seu pai, Gérard Cauvin, era advogado dos sacerdotes e secretário do bispo local. Aos 12 anos, o menino recebeu um cargo eclesiástico.

· 1523-1528: quando ainda adolescente, estudou humanidades e teologia na Universidade de Paris.

· 1528-1532: estudou direito em Orléans e Bourges; teve aulas de grego com o luterano Melchior Wolmar.

· 1532-1534: retornou a Paris e retomou os seus estudos humanísticos; publicou a sua primeira obra (comentário do tratado De Clementia, de Sêneca). Experimentou uma “conversão repentina” e fugiu da cidade (01-11-1533); visitou o humanista Jacques Lefèvre D’Étaples.

· 1536-1538: publicou a primeira edição da Instituição da Religião Cristã (Institutas) e teve a primeira estada em Genebra.

· 1538-1541: expulso de Genebra, passou três anos produtivos em Estrasburgo, onde atuava o reformador Martin Bucer. Pastoreou uma igreja de refugiados, lecionou em uma academia e escreveu novas obras (2ª edição das Institutas, primeiro comentário bíblico – Epístola aos Romanos, tratado sobre a Ceia do Senhor).

· 1541-1555: escreveu a Resposta a Sadoleto e foi convidado para voltar a Genebra. Organizou a igreja reformada (Ordenanças Eclesiásticas); por muitos anos, teve um relacionamento tenso com as autoridades civis.

· 1555-1564: período mais harmonioso, no qual desenvolveu sua grande obra em prol da Reforma. Em 1559, publicou a última edição das Institutas e criou a Academia de Genebra.

(a) Contribuições
· Teólogo e escritor profundo e criativo: sua vasta obra aborda todas as áreas da teologia e da sociedade.

· Pastor e estruturador da igreja reformada: deu forma à teologia reformada e ao sistema presbiteriano de governo eclesiástico.

· Articulador do movimento reformado: seus contatos e correspondência contribuíram para a difusão do movimento por toda a Europa.

· Outros teólogos reformados influentes foram: Martin Bucer (†1551), Jan Laski (†1560), Pedro Mártir Vermigli (†1562), João Knox (†1572), Girolamo Zanchi (†1590) e Teodoro Beza (†1605), entre outros.

(b) Escritos

· A enorme produção literária de Calvino ocupa 59 volumes da coleção intitulada Corpus Reformatorum. As concepções teológicas do reformador se encontram em seis categorias de escritos:

1. As Institutas: a mais influente exposição da teologia protestante e reformada. Calvino produziu ao todo oito edições do texto latino (1536-1559) e cinco traduções para o francês. A primeira edição tinha apenas seis capítulos; a última totalizou oitenta. Tem quatro partes, que seguem a estrutura do Credo dos Apóstolos:

§ Livro I – O Conhecimento de Deus, o Criador: o duplo conhecimento de Deus, as Escrituras, a Trindade, a criação e a providência.
§ Livro II – O Conhecimento de Deus, o Redentor: a queda e a corrupção humana, a Lei, o Antigo e o Novo Testamento, Cristo o Mediador – sua pessoa (profeta, sacerdote, rei) e sua obra (expiação).
§ Livro III – A Maneira como Recebemos a Graça de Cristo, seus Benefícios e Efeitos: fé e regeneração, arrependimento, vida cristã, justificação, predestinação, ressurreição final.
§ Livro IV – Os Meios Externos pelos quais Deus nos Convida para a Sociedade de Cristo: a igreja, os sacramentos, o governo civil.

2. Comentários: são um complemento das Institutas. Calvino escreveu comentários de todos os livros do Novo Testamento, exceto II e III João e Apocalipse, e sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e Isaías. Deixou preleções sobre muitos livros da Bíblia.

3. Sermões: Calvino expunha sistematicamente os livros da Bíblia. Costumava pregar sobre o Novo Testamento aos domingos e sobre o Antigo Testamento durante a semana. Seus sermões eram anotados taquigraficamente por um grupo de refugiados franceses. A série Corpus Reformatorum contem 872 sermões do reformador.

4. Folhetos e tratados: temas apologéticos (contra católicos e anabatistas) e gerais.

5. Cartas: escritas a outros reformadores, soberanos, igrejas perseguidas, protestantes encarcerados, pastores, colportores.

6. Escritos litúrgicos e catequéticos: confissão de fé, catecismo, saltério.

(c) O pensamento teológico de Calvino
· Conteúdo bíblico: a reflexão teológica de Calvino está firmemente ancorada nas Escrituras. Ela é fruto do seu estudo cuidadoso e sistemático das Escrituras. Antes de ser sistemática ou especulativa, a sua teologia é bíblica, revelando o seu impressionante conhecimento das Escrituras.

· Abrangência: em sua reflexão teológica, Calvino procurou abordar todos os temas presentes nas Escrituras. O seu pensamento não só cobre todas as áreas da teologia, mas vai além da mesma, para abordar questões éticas, políticas, sociais e econômicas. Isso é típico da cosmovisão reformada: a preocupação em relacionar a fé bíblica com todas as áreas da vida.

· Respeito pela herança cristã: Calvino sabia que a teologia cristã não havia começado com ele e por isso estava pronto a aceitar tudo aquilo de bom e proveitoso que foi produzido antes do seu tempo. Ele valorizou e utilizou a tradição dogmática e exegética da igreja antiga, expressa nos grandes credos cristãos dos séculos 4° e 5° e no pensamento de escritores como Ambrósio, Agostinho, João Crisóstomo, Bernardo de Claraval e outros.

· Teocentricidade: a teologia de Calvino gira em torno do Deus trino em sua soberania, graça e glória. Para uma excelente síntese dessa teologia, ver o livro Teologia dos Reformadores, de Timothy George (Edições Vida Nova, 2000).

III. DECLARAÇÕES CONFESSIONAIS

· Além do pensamento dos reformadores suíços, outra fonte da teologia reformada são as declarações de fé articuladas pelos calvinistas nos séculos 16 e 17. Essas declarações são notáveis pelo seu número e variedade: a comunidade reformada formulou pelo menos 50 confissões de alguma importância nos primeiros 150 anos. Seus tópicos são os temas clássicos da teologia reformada: Deus e o seu senhorio, a autoridade das Escrituras, o pecado e a salvação, a eleição, os sacramentos, a vida cristã, questões éticas, etc. Muitos desses documentos abordam passagens clássicas da Escritura e da tradição cristã, tais como os Dez Mandamentos, a Oração do Senhor e o Credo Apostólico. Classificam-se em dois tipos de textos: (1) confissões de fé e (2) catecismos (estes geralmente na forma de perguntas e respostas). Alguns exemplos mais expressivos são os seguintes:

(a) Confissões de fé
· Sessenta e Sete Artigos (1523): apresentados por Zuínglio no primeiro debate teológico realizado em Zurique. Parágrafo introdutório: “Os artigos e opiniões abaixo, eu, Ulrico Zuínglio, confesso ter pregado na nobre cidade de Zurique, com base nas Escrituras, que são tidas como inspiradas por Deus”.

· Confissão de Genebra (1536): apresentada por João Calvino e Guilherme Farel às autoridades de Genebra em 10 de novembro de 1536. Distingue-se de documentos suíços anteriores por sua argumentação mais cuidadosa e perspectiva teológica mais consistente. Também se caracteriza por sua concisão e senso de autoridade. Aborda 21 tópicos, começando com a afirmação de convicções teológicas e concluindo com temas em disputa com os católicos.

· Confissão da Guanabara (1558): escrita por quatro huguenotes que fizeram parte da França Antártica, uma colônia francesa fundada na Baía da Guanabara por Nicolas Durand de Villegaignon. Com base nessa declaração de fé, o comandante condenou os calvinistas à morte, executando três deles. Esse valioso documento contém 17 parágrafos que tratam dos seguintes temas: a Trindade, os sacramentos, o livre arbítrio, a autoridade dos sacerdotes, casamento e celibato, intercessão dos santos e orações pelos mortos.

· Confissão Galicana (1559): adotada pela Igreja Reformada da França por ocasião do seu primeiro sínodo nacional, realizado nas proximidades de Paris. O principal autor do texto foi João Calvino.

· Confissão Escocesa (1560): redigida em quatro dias a pedido do Parlamento escocês como parte da reforma da igreja; foi escrita por uma comissão de seis membros, entre os quais o reformador João Knox (1505-1572).

· Confissão Belga (1561): escrita por Guido de Brès “para os fiéis que estão dispersos por toda parte nos Países Baixos”; foi adotada por um sínodo reunido em Antuérpia em 1566 e, com algumas modificações, tornou-se um documento oficial das igrejas reformadas holandesas, junto com o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort (as Três Formas da Unidade).

· Segunda Confissão Helvética (1566): escrita por João Henrique Bullinger a pedido de Frederico III, príncipe eleitor do Palatinado, na Alemanha. Em um tom moderado, apresenta o calvinismo como o cristianismo evangélico que está em harmonia com os ensinos da igreja antiga. Foi aceita oficialmente na Suíça, Alemanha, França, Escócia, Hungria e Polônia, e bem recebida na Holanda e na Inglaterra.

(b) Catecismos
· Instrução na Fé (1537): escrito por Calvino pouco depois de se radicar em Genebra, contém uma apresentação clara e serena dos pontos essenciais do seu pensamento inicial. Possui 33 seções, que abordam os mais diferentes tópicos.

· Catecismo de Genebra (1542): escrito por Calvino a pedido de várias pessoas, no início de sua segunda estada em Genebra. Foi um aperfeiçoamento do catecismo de 1537. Ao mesmo tempo, foi preparado um calendário indicando como o catecismo poderia ser aprendido e recitado num período de 55 semanas. Foi adotado pela Igreja Reformada da França e pela Igreja da Escócia.

· Catecismo de Heidelberg (1563): principal documento da Igreja Reformada Alemã. Foi escrito por dois teólogos, Zacarias Ursinus e Gaspar Olevianus, a pedido do príncipe Frederico III, do Palatinado. É um documento conciliador, combinando o calvinismo com um luteranismo moderado. É considerado um dos documentos reformados mais calorosos e pessoais, sendo adotado por muitas igrejas reformadas. Suas 129 perguntas e respostas distribuem-se em três partes: 1) Nosso pecado e culpa; 2) Nossa redenção e liberdade; 3) Nossa gratidão e obediência.

IV. O PURITANISMO

(a) Características

· O puritanismo foi uma das manifestações mais férteis e influentes do calvinismo em toda a sua história. Suas origens remontam aos primeiros reformadores ingleses e escoceses, mas o movimento claramente identificado surgiu no reinado de Elizabete I (1558-1603). Os puritanos receberam essa designação por insistirem na purificação da Igreja da Inglaterra em sua teologia, culto e forma de governo.

· Os puritanos incluíam alguns milhares de pastores ingleses, além de muitíssimos leigos. Eles eram solidamente calvinistas em sua teologia, mas infelizmente divergiram quanto à forma de governo eclesiástico, o que acabou por dividir e enfraquecer o movimento. Muitos deles eram simpatizantes do presbiterianismo, mas outros se inclinavam para os sistemas congregacional e episcopal. Enquanto muitos queriam permanecer na Igreja da Inglaterra, alguns se tornaram separatistas (independentes, batistas e outros grupos).

· Alguns traços distintivos do puritanismo são os seguintes:

(1)   Erudição e piedade: os puritanos valorizavam grandemente o estudo e a vida intelectual, ao mesmo tempo em que davam ênfase a uma espiritualidade rica e transbordante.

(2)   Cristianismo prático: davam ênfase à experiência religiosa, à conversão e ao contínuo auto-exame espiritual, mas também a uma piedade prática que se manifestava em todas as áreas da existência.

(3)   Preocupação ética: ênfase na santidade, tanto pessoal quanto comunitária (“santos no mundo”).

(4)   Centralidade da pregação: os puritanos foram grandes pregadores e expositores das Escrituras; com isso, a sua teologia acessível e prática penetrou em todos os níveis da sociedade inglesa.

(5)   Principais convicções: a salvação pessoal é uma dádiva exclusiva de Deus; a Bíblia é o guia indispensável para a vida; a igreja deve refletir o ensino expresso das Escrituras; a sociedade é um todo unificado. Também davam ênfase aos conceitos de lei e aliança e atribuíam grande importância ao Dia do Senhor (sabatarianismo).

· “A fidelidade da teologia puritana à revelação bíblica, sua abrangência, sua integração da teologia com outros tipos de conhecimento, sua profundidade pastoral e espiritual, seu êxito em criar uma tradição duradoura de culto, pregação e espiritualidade leiga fazem dela uma tradição de permanente importância no cristianismo de língua inglesa e nas igrejas reformadas mais amplas” (I. Breward).

(b) Teólogos representativos
· William Perkins (1558-1602), William Ames (1576-1633), Richard Sibbes (1577-1635), Thomas Goodwin (1600-1680), John Owen (1616-1683), Richard Baxter (1615-1691).

· Alguns herdeiros conhecidos da tradição puritana foram John Bunyan, Jonathan Edwards, Charles H. Spurgeon e, mais recentemente, D.M. Lloyd-Jones e J.I. Packer.

V. A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER

(a) Contexto histórico

· A Assembléia de Westminster (1643-1648) foi um notável encontro de teólogos protestantes ocorrido durante a Guerra Civil Inglesa, na qual as tropas do rei Carlos I lutaram contra o exército parlamentar. Convocada pelo Parlamento, de maioria puritana, a Assembléia iniciou as suas atividades no dia 1° de julho de 1643, nas dependências da Abadia de Westminster, em Londres. Era composta de 121 dos mais hábeis pastores da Inglaterra, além de 30 membros do Parlamento. Todos os 121 teólogos eram membros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e subcomissões.

· Logo que a Assembléia iniciou os seus trabalhos, as forças parlamentares começaram a enfrentar dificuldades na guerra. O Parlamento buscou o auxílio dos escoceses, que concordaram em ajudar sob uma condição – que todos os membros da Assembléia e do Parlamento assinassem um pacto solene comprometendo-se a manter e defender a Igreja da Escócia e a reformar a Igreja da Inglaterra e da Irlanda em sua doutrina, governo, culto e disciplina, de acordo com a Palavra de Deus, o que foi aceito.

· Os presbiterianos escoceses também puderam enviar representantes à Assembléia, quatro pastores e dois presbíteros, que participaram dos trabalhos sem direito a voto, mas exerceram uma influência desproporcional ao seu número. Logo que eles chegaram e foi assinado o pacto solene (setembro de 1643), houve uma mudança radical no trabalho da Assembléia. Até então, a idéia era revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana. Agora, passou-se a fazer uma reforma completa da igreja.

(b) Os documentos
· A Assembléia de Westminster caracterizou-se não somente pela erudição, mas por uma profunda espiritualidade. Gastou-se muito tempo em oração e tudo foi feito em um espírito de reverência. Cada documento elaborado era encaminhado ao Parlamento para aprovação, o que só acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados “Padrões Presbiterianos” elaborados pela Assembléia foram os seguintes:

(a)    Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo Parlamento no mês seguinte. Substituiu o Livro de Oração Comum. Também foi preparado o Saltério, uma versão metrificada dos Salmos para uso no culto (novembro de 1645).

(b)   Forma de Governo Eclesiástico: concluída em 1644 e aprovada pelo Parlamento em 1648. Instituiu a forma de governo presbiteriana em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos.

(c)   Confissão de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo Parlamento em março de 1648, após o acréscimo de referências bíblicas.

(d)   Catecismos Maior e Breve: concluídos no final de 1647 e aprovados pelo Parlamento em março de 1648.

(c) A Confissão de Fé e os Catecismos
· A Confissão de Fé compõe-se de 33 capítulos cujos temas podem ser classificados da seguinte maneira: a Escritura Sagrada (Cap. 1), o Ser de Deus e suas obras (2-5), o pecado e a salvação (6-8), a aplicação da obra da salvação (9-15), a vida cristã (16-21), o cristão na sociedade (22-24), a igreja e os sacramentos (25-29), a disciplina eclesiástica e os concílios (30-31), as últimas coisas (32-33). Entre os temas especificamente reformados estão os decretos de Deus, o pacto (das obras e da graça), o conceito de livre arbítrio, a vocação eficaz, a perseverança dos santos, a lei de Deus, os sínodos e concílios.

· O Catecismo Maior compõe-se de 196 perguntas e respostas e se divide em três partes: 1) A finalidade do homem, a existência de Deus e as Escrituras Sagradas (perguntas 1-5); 2) O que o ser humano deve crer sobre Deus (6-90); 3) Quais são os nossos deveres (91-196). Algumas seções especiais são: Cristo, o Mediador (36-56), os Dez Mandamentos (98-148) e a Oração do Senhor (186-196). O Breve Catecismo tem 107 perguntas e respostas. Sua parte central trata da lei de Deus e dos Dez Mandamentos.

VI. O CULTO REFORMADO

· Desde o início, uma das questões mais importantes e cruciais para a fé reformada foi o culto cristão e seus elementos correlatos, como a liturgia e a pregação. O tema será abordado aqui em quatro aspectos: (a) o culto cristão no sentido amplo; (b) o culto na perspectiva reformada; (c) a liturgia, ou seja, o conteúdo e a seqüência das partes do culto; (d) a pregação.

1. O culto cristão
· O culto cristão pode ser definido como a atitude interior de adoração a Deus, bem como a expressão exterior da mesma em palavras e atos individuais e comunitários. Portanto, o culto tem duas dimensões: uma interior e outra exterior; além disso, pode ser individual e corporativo (culto público).

· Tanto no seu aspecto pessoal quanto coletivo, o culto cristão tem a mais alta importância, por várias razões: (a) o objeto e a razão de ser do culto é Deus, a realidade última, o Ser Supremo; portanto, não pode haver atividade humana mais importante do que esta; (b) o culto é a manifestação mais visível e palpável da comunidade de fé, seja no Israel antigo, seja na igreja; (c) o culto é central para todas as outras atividades da igreja, servindo de sustentação e motivação para a comunhão, a educação cristã, as missões e o serviço.

· As características, elementos e princípios gerais do culto são expressos na Escritura Sagrada, embora não encontremos nela exemplos detalhados de uma liturgia ou ritual, isto é, de uma cerimônia de culto, seja no Antigo ou no Novo Testamento. Temos, todavia, todos os dados para elaborarmos uma teologia do culto.

· Antigo Testamento: o fundamento do culto de Israel está no seu relacionamento com Deus. Jeová formou Israel e o escolheu para ser o seu povo peculiar. Libertou-o do cativeiro egípcio, estabeleceu com ele a sua aliança e deu-lhe as suas leis. Escolhido, redimido e abençoado pelo Senhor, Israel deve servi-lo, obedecer-lhe e adorá-lo.

· “Jeová é o Deus vivo que entra na história dos homens e forma para si um povo com a finalidade de salvar o mundo. Israel, tirado da escravidão, deve a existência exclusivamente ao favor de Deus. Tendo sido escolhido para servir a Deus, somente tem sentido em função deste serviço; sua vocação primordial e impostergável será dar testemunho do Deus vivo perante o mundo... Cultuar a Deus consiste, em primeiro lugar, no reconhecimento da autoridade de Deus, absoluta e eterna”. (R. Martin-Achard)

· O culto devido a Deus pelo povo escolhido não está limitado a certos gestos rituais ou cerimônias religiosas, mas deve abranger todas as áreas da vida. Além disso, Deus não pode ser cultuado apenas exteriormente. Para honrar verdadeiramente a Deus, era necessário obedecer as suas leis, não apenas cerimoniais, mas também morais e éticas. Comparecer diante de Deus com sacrifícios, e ao mesmo tempo desprezar os seus requisitos de justiça, era insultá-lo (Is 1.11-17; Am 5.21-24).

· Um dos principais objetivos dos profetas era mostrar a Israel como Deus devia ser cultuado. Eles proclamaram ao povo que Jeová é um Deus zeloso, que requer para si um culto exclusivo. Não é possível servir a Jeová e a Baal. Além disso, Deus não se deixa comprar. Não o cegam os muitos sacrifícios nem os ritos pomposos. Ele rejeita um culto desmentido pela vida diária e repele as homenagens vindas de lábios hipócritas.

· “Em suma, servir a Deus significa encontrarmo-nos com Alguém que exige total obediência e absoluta submissão, porquanto reivindica ser o único Senhor de toda e qualquer vida, inclusive a nossa... Enquanto não vem o Reino, o culto é o venturoso lugar de encontro dos fiéis com o seu Deus”. (R. Martin-Achard)

· No AT, a palavra “culto” traduz uma palavra hebraica que significa “inclinar-se, prostrar-se”, uma postura indicativa de reverência e homenagem. O conceito de culto é expresso pelos termos “servir, serviço”. No culto do AT, o elemento mais destacado eram os sacrifícios, que visavam mostrar como um povo pecador podia aproximar-se de um Deus santo e justo. Os diferentes sacrifícios tinham o objetivo de fazer expiação pelos pecados, expressar gratidão e alegria, bem como ilustrar ao povo a importância de uma vida de santidade. Além disso, havia as diferentes festas, tais como Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos, todas as quais também faziam parte do culto a Deus.

· Novo Testamento: os principais termos gregos associados ao culto no NT são: (a) proskynéo = “prostar-se, adorar” (ver Mt 14.33; At 10.25-26; 1 Co 14.25); (b) latreúo (latreía) = “servir, serviço” (Mt 4.10; At 26.7; Rm 1.25; 12.1); (c) leitourgéo, leitourgía = “servir, ministrar, serviço, ministração” (At 13.2; Rm 15.27; Hb 10.11; Lc 1.23; 2 Co 9.12; Fp 2.17,30; Hb 8.6; 9.21).

· A forma exterior do culto difere radicalmente daquela do Antigo Testamento. Visto que a morte de Cristo constituiu o sacrifício perfeito, não há mais necessidade de sacrifícios (Hb 9.11-12, 24-26). De fato, toda a instituição de templo, sacerdócio, sacrifício e purificação ritual se torna obsoleta. Antes, a própria igreja, isto é, todos os crentes, são o templo e o sacerdócio nos quais habita o Espírito Santo (1 Co 6.19; Ef 2.21-22; 1 Pe 2.9).

· O culto envolve duas partes: Deus e os adoradores. (a) O Deus que é adorado: o Deus vivo, o Senhor, o Criador, o Deus do Antigo Testamento, está presente no culto, está atento ao culto, conhece os corações, convida e responde, está pronto a ajudar, é um Deus imutável, deve ser louvado e glorificado. (b) Os cristãos que adoram: homens e mulheres de fé, amam a Deus, possuem um intelecto, têm uma mentalidade espiritual, possuem experiência, aproximam-se de Deus, não são arrogantes mas ousados, mostram unanimidade no culto, têm um espírito de expectativa, conhecem suas falhas como adoradores.

· Fundamentos do culto: (a) a experiência do perdão e da justificação; (b) a importância da devoção particular; o culto comunitário é vivo e vibrante quando procede de pessoas que adoram em particular (ver a experiência de Paulo: Rm 1.8-10; 1 Co 1.4; Gl 2.20); (c) outros princípios: continuidade, persistência, esforço, vigilância (Ef 6.18; Cl 4.2s), regularidade, mutualidade (Ef 5.19), valorização (Hb 10.25; 1 Co 11.22), reverência, decoro (1 Co 14.23,40; Ef 5.3; 1 Tm 3.15; Tt 2.10).

2. O culto reformado
· Na tradição reformada, o culto tem como objetivo primordial glorificar a Deus, o Deus santo, cuja salvação graciosa é um dom gratuito e imerecido. Um aspecto central desse culto é a gratidão. A liturgia reformada é dialógica: ouvimos sobre a graciosa misericórdia redentora de Deus e respondemos com gratidão. Charis e eucharistia.

· Para os primeiros teólogos reformados, eram muito importantes os quatro primeiros mandamentos do Decálogo, aqueles que falam dos nossos deveres para com Deus. Calvino observou que a primeira tábua da lei foi sintetizada por Jesus no primeiro e maior dos mandamentos, o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas (Mt 22.37; ver Institutas 2.8.11-34). Portanto, o culto fala do relacionamento de amor entre Deus e o seu povo, um amor pactual.

· Outro fundamento do culto reformado é a sua conexão com as Escrituras. Deus mesmo determinou que os seus filhos o adorem e revelou em sua Palavra as normas que devem reger esse culto. O puritano William Ames afirmou o princípio já presente em Agostinho e Calvino de que nada glorifica tanto a Deus como aquilo que vem de Deus. Assim, o nosso culto deve refletir a glória de Deus.

· Ao contrário de Lutero, que manteve no culto alguns elementos tidos como indiferentes (adiáfora), Zuínglio e Calvino pretenderam ater-se estritamente às Escrituras. Daí o chamado “princípio regulador” – o culto cristão deve se reger pelo que é clara e explicitamente revelado no Novo Testamento. Em contraste com isso, luteranos e anglicanos entendiam que o que não é proibido, é permitido. Daí o culto reformado caracterizar-se por maior austeridade e simplicidade que as liturgias dessas outras confissões protestantes.

· Todavia, existem particularidades do culto sobre as quais não existem instruções específicas da Escritura, devendo ser orientadas pela razão e pelo bom senso. É disse o que fala a CFW em seu capítulo 1°, parágrafo 6, especialmente na parte final: “... reconhecemos... que há algumas circunstãncias, quando ao culto a Deus e ao governo da igreja... as quais tem de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência crista, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas”.

· Calvino acentuou os seguintes princípios para o culto:
(a)    Integridade bíblica e teológica (lex orandi, lex credendi)
(b)   Equilíbrio entre estrutura/forma e essência
(c)    Inteligibilidade, edificação
(d)   Simplicidade (sem pompa, teatralismo)
(e)    Flexibilidade (p.e., freqüência da Ceia do Senhor)
(f)     Participação congregacional (cânticos, salmos metrificados)

· No caso da flexibilidade, há o exemplo do próprio reformador de Genebra, que via com simpatia o ajoelhar-se para orar, mas não insistiu nisso como algo obrigatório. Ele também era favorável à celebração mensal da Ceia, porém acabou concordando com a preferência dos genebrinos, ou seja, quatro celebrações anuais (Natal, Páscoa, Pentecostes e em setembro). Em suma, os princípios básicos que regem o culto reformado são: precedente bíblico, simplicidade formal, música congregacional com conteúdo doutrinário e centralidade da pregação e dos sacramentos.

· Como o objetivo principal do culto é exaltar e glorificar a Deus, e não agradar os participantes, existe a necessidade de reverência. Todavia, o culto também visa suprir necessidades legítimas da congregação. Daí decorre a importância da pregação no culto reformado. A pregação autêntica deve ser bíblica, doutrinária e prática, isto é, relacionada com a vida. O culto deve refletir um saudável equilíbrio entre intelecto e sentimento, mente e coração. Um belo exemplo desse equilíbrio foi a vida do pastor e teólogo reformado Jonathan Edwards (1703-1758).

· Quanto à música, segundo Augustus N. Lopes, nunca é demais acentuar que a teologia de uma igreja é influenciada pela música que ela canta. Pastores podem pregar sermões doutrinariamente corretos, mas se as suas igrejas cantarem hinos e cânticos heterodoxos, esses últimos influenciarão mais que as palavras do pastor.

· A tendência atual de se substituir os antigos hinos utilizados por gerações de crentes por cânticos com ritmos mais contemporâneos corre dois sérios riscos: primeiro, a perda do sentido da história, a ruptura da nossa ligação com a igreja do passado; em segundo lugar, há o fato de que muitos desses cânticos, além de sua pobreza melódica, poética e gramatical, padecem de sérias distorções teológicas ou são simplórios e repetitivos, trazendo muito pouca instrução para o povo de Deus, ao contrário dos hinos tradicionais da igreja, com todo o seu rico conteúdo bíblico e doutrinário. Precisamos de hinos que sejam condizentes com a nossa cultura, mas que tenham solidez bíblica e teológica.

3. A liturgia do culto

(a) Noções gerais

· “Liturgia” se refere ao que é dito no culto público, quer venha de um livro de orações ou espontaneamente do coração. “Ritual” pode ser entendido como aquilo que é feito no culto público, seja de acordo com normas escritas ou de maneira livre. Por exemplo: A congregação se levanta para cantar? Se ajoelha para orar? O pão e o vinho são levados aos comungantes ou estes vão até a frente para recebê-los? Algum ritual é inevitável. O que se deve evitar é o ritualismo.

· Muitos estudiosos entendem que os salmos (ou pelo menos alguns deles) eram composições litúrgicas para ocasiões festivas ou para momentos religiosos especiais na vida dos adoradores. Um exemplo interessante é o Salmo 24, que descreve uma procissão de adoradores que se aproxima do templo no monte Sião. Quando se aproximam, eles bradam (v. 3); outro personagem, um sacerdote ou o porteiro do templo, responde com a fórmula de entrada (v. 4-5); um dos líderes dos peregrinos expressa a sinceridade do seu grupo (v. 6). A próxima seção pode estar relacionada com uma procissão festival que se aproximava do templo levando a arca da aliança como símbolo da presença de Jeová (v. 7-10). Outros tipos de salmos são: liturgias da arca, cânticos de Sião, cânticos de peregrinação, salmos reais, ações de graça, salmos penitenciais.

· O culto do NT não se baseia nas cerimônias rebuscadas do templo, mas no ritual simples da sinagoga. “As primeiras reuniões e locais de encontro dos cristãos seguiam o modelo das sinagogas” (Paul P. Levertoff). O culto diário da sinagoga no primeiro século AD provavelmente começava com uma invocação: “Bendizei ao Senhor, que deve ser louvado”. Vinha então a recitação do credo, o Shemá (Dt 6.4-9; 11.13-21; Nm 15.37-41). Isso era acompanhado de quatro bênçãos, duas antes e duas depois do Shemá. A seguir, havia a Tephilah, uma oração na forma de bênçãos. Nos sábados e dias santos, eram então lidas as Escrituras Hebraicas, cada dia tendo duas passagens, uma do Pentateuco e outra dos Profetas. Com freqüência isso era seguido de uma exposição da passagem por uma pessoa qualificada (ver Lc 4.20-27; At 13.15-41). Os salmos também eram utilizados, especialmente os do Hallel (113-118, 146-150).

· Alguns estudiosos, especialmente Ralph Martin, detectaram uma “ordem de culto” simples em 1 Ts 5.16-24. Outros indícios podem ser encontrados em Atos 2.42-47. Alguns testemunhos antigos sobre o culto cristão estão presentes em Justino Mártir (I Apologia), em Tertuliano e na Didaquê, com as suas belíssimas orações litúrgicas para a celebração da Ceia do Senhor. Na Idade Média, o culto se tornou cada vez mais formal e ritualístico.

(b) A liturgia reformada
· Historicamente, as igrejas reformadas têm se recusado a adotar uma liturgia fixa. Ao mesmo tempo, insistem que o culto não deve ser aleatório, totalmente espontâneo, entendendo que as Escrituras estabelecem normas para o culto. Por exemplo, os elementos constitutivos do culto estão claramente prescritos na Bíblia. Os principais elementos do culto reformado são a música, as orações, a Palavra (mais especificamente o sermão) e os sacramentos.

· Os reformadores não chegaram a ser inovadores em matéria de liturgia. Eles herdaram o culto da sua igreja de origem e, em grande parte, retiveram a forma tradicional da liturgia. Seu interesse maior estava na área da teologia. Assim sendo, eles corrigiram a teologia, simplificaram as formas e restauraram a participação congregacional. Todavia, a estrutura básica do culto foi mantida, iniciando com o rito de confissão, passando pelas leituras da Escritura e as orações dos fiéis, e concluindo com a celebração eucarística.

· David G. Buttrick observa que a história da liturgia reformada é uma história de três cidades: Estrasburgo, Zurique e Genebra. O culto reformado começou em Estrasburgo em 1524 com uma liturgia em alemão que incluía uma confissão comum, o cântico congregacional de salmos e sermões bíblicos na forma de lectio continua. Martin Bucer fez modificações nesse culto, acrescentando intercessões e uma exortação didática antes da Ceia. Em seu livro Grund und Ursach (1524), que se tornou um manual para o culto na tradição reformada, ele argumentou que o culto deve ser fundamento em “afirmações claras e diretas da Escritura Sagrada”.

· Em 1524, Zuínglio escreveu um opúsculo atacando a missa católica. No entanto, ele era liturgicamente conservador e por algum tempo reteve o uso do latim, do cerimonial, de vestes litúrgicas, etc. Sob pressão, ele eliminou das igrejas as imagens, relíquias e ornamentos. As paredes foram caiadas e os órgãos retirados para que os adoradores pudessem se concentrar somente na Palavra de Deus. No ano seguinte, a missa foi abolida, sendo criado um novo culto que incluía orações, leitura das Escrituras e pregação. A maior transformação foi o entendimento radicalmente novo da Ceia do Senhor.

· A tradição zuingliana alcancou Genebra por meio de Guilherme Farel. Ele preparou La manière et fasson (1524), um manual de culto baseado nas práticas de Basiléia e de Zurique. Essa liturgia dava mais ênfase à pregação do que à Ceia do Senhor. Foi esse o culto que Calvino encontrou em Genebra ao chegar à cidade em 1536. Sob a influência desse reformador, foram eleborados os “Artigos concernentes à organização da igreja e do culto em Genebra”.

· Durante sua estada em Estrasburgo, ele tomou conhecimento das alterações litúrgicas feitas por Bucer e preparou uma liturgia e um saltério metrificado para a sua igreja de refugiados franceses. Ao retornar a Genebra, levou consigo a liturgia de Estrasburgo, que publicou sob o título A Forma das Orações. Como já havia feito antes, voltou a insistir na celebração semanal da Ceia do Senhor, o que não foi aceito.

· A estrutura do culto de Estrasburgo adotado por Calvino era a seguinte:
(a)    Chamado à adoração: Salmo 124.8
(b)   Confissão de pecados
(c)    Declaração de perdão
(d)   Mandamentos cantados com o Kyrie Eleison
(e)    Oração de iluminação
(f)     Texto bíblico e sermão
(g)    Ofertório
(h)    Intercessões
(i)      Oração do Senhor parafraseada (omitida quando havia Ceia)
(j)     Credo Apostólico durante a preparação dos elementos
(k)   Oração eucarística
(l)      Palavras de instituição
(m)   Restrição do acesso à mesa
(n)    Recitação de promessas
(o)   Sursum corda (corações ao alto)
(p)   Comunhão
(q)   Salmo 138
(r)     Oração de ação de gracas
(s)    Nunc dimittis (cântico de Simeão)
(t)     Bênção de Arão (Nm 6.24-26)

· Calvino afirmou: “Nenhuma reunião da igreja deve ocorrer sem a Palavra, orações, participação da Ceia e ofertas” (Institutas 4.17.44). As orações incluíam os cânticos ou orações cantadas: dos salmos, dos mandamentos, do Credo e do Cântico de Simeão após a Ceia.

· A Assembléia de Westminster preocupou-se em estabelecer normas detalhadas para o culto a Deus. A Confissão de Fé, no Cap. 21 (“Do culto religioso e do domingo”), tem instruções valiosas sobre como adorar a Deus, a quem se deve adorar, onde se deve adorar, a oração e os outros elementos do culto. Ver também o Diretório do Culto de Westminster.

· Quanto às liturgias reformadas, há um antigo mas excelente estudo histórico de Charles W. Baird, A Liturgia Reformada (1855), traduzido há poucos anos para o português (Socep, 2001). O ensaio aborda as práticas litúrgicas de Calvino em Genebra, a liturgia das igrejas reformadas da França e da Escócia, o culto dos puritanos e a liturgia das igrejas da Holanda e do Palatinado (Alemanha). Ver “A última comunhão de Calvino” (p. 39) e momentos finais de Knox (p. 53).

· O livro Reforma Hoje (Cultura Cristã, 1999) tem dois bons capítulos sobre a questão do culto: “A reforma do culto” (W. Robert Godfrey) e “A reforma no culto, na doutrina e na vida” (James M. Boice). Tratam das distorções do culto evangélico/reformado e da necessidade de um retorno aos fundamentos bíblicos do culto.

· O culto, sendo um elemento tão central e visível, é de crucial importância para a igreja. É também um fato de identidade e unidade das igrejas que pertencem à mesma confissão. Infelizmente, as igrejas presbiterianas do Brasil estão desunidas nesse ponto crucial. Elas não têm dado um testemunho unânime sobre as suas convicções nessa área. Muitos pastores e igrejas locais têm feito modificações profundas em sua liturgia, movidos muitas vezes por considerações pragmáticas, deixando de lado a história e a teologia do culto reformado. A Constituição da IPB insiste na responsabilidade dos pastores nessa área: Art. 31, inciso “d”. Ver também Princípios de Liturgia, Cap. III (Culto Público).

4. A pregação

(a) Panorama histórico

· A pregação sempre foi importante na tradição judaico-cristã, a começar do Antigo Testamento, com os profetas. Mais tarde, no culto da sinagoga, surgiu a pregação expositiva e sequencial das Escrituras. A pregação também teve um lugar saliente no ministério de Jesus, dos apóstolos e da igreja primitiva. No cristianismo antigo houve grandes pregadores, como Orígenes, que pregava um livro da Bíblia após o outro, tanto do AT quanto do NT, capítulo por capítulo e versículo por versículo.

· Outros grandes pregadores patrísticos foram, entre os gregos, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nazianzo e especialmente João Crisóstomo (o “boca de ouro”). Seus sermões foram notáveis pelo tratamento sistemático da Bíblia, aplicação moral e coragem profética. No Ocidente latino destacaram-se como pregadores Ambrósio de Milão e Agostinho de Hipona.

· Na Idade Média houve um declínio acentuado da pregação bíblica. Alguns dos pregadores mais destacados foram monges missionários como Patrício, Columba, Columbano e Bonifácio. A situação começou a melhorar a partir da época de Carlos Magno e seu ministro Alcuíno, no século 9°. A partir do século 12 houve um forte reavivamento da pregação com o surgimento das ordens franciscana e dominicana. Domingos, Francisco de Assis, Antônio de Pádua, Alberto Magno e Boaventura foram grandes pregadores católicos.

· Com o advento do protestantismo, a pregação voltou a ocupar um lugar central na atividade da igreja e no culto cristão. Martinho Lutero retomou o antigo método de pregação expositiva e foi um pregador eloquente e apaixonado. Ulrico Zuínglio, inspirado pelo exemplo de Crisóstomo, começou a pregar o Evangelho de Mateus, capítulo por capítulo. João Ecolampádio, também seguindo Crisóstomo, exortou os pregadores a adotarem a exegese histórico-gramatical e a abandonarem a exegese alegórica tão popular na Idade Média. João Calvino foi um mestre na arte da interpretação bíblica. Seus sermões são simples, claros e instrutivos. João Knox também se destacou como um pregador de grande impacto.

· Os sermões de Lutero formam vinte volumes, os de Calvino, quarenta, e Bullinger, o sucessor de Zuínglio, pregou a Bíblia inteira em pouco mais de quinze anos. A maior parte dos reformadores pregou no sistema lectio continua, expondo as Escrituras passagem após passagem.

· Todavia, foi com o movimento puritano que a pregação bíblica chegou ao seu ponto mais alto na tradição reformada. Seus representantes mais conhecidos na Inglaterra foram William Perkins, John Preston, Richard Sibbes, Richard Baxter, Edmund Calamy, Thomas Goodwin, Thomas Watson, Thomas Manton, John Flavel, e, na América do Norte, John Cotton, Thomas Shepard e John Davenport. Outros grandes pregadores e evangelistas calvinistas nos séculos 18 e 19 foram George Whitefield, Jonathan Edwards, Gilbert Tennent, Samuel Davies, Thomas Chalmers e Charles Haddon Spurgeon.

(b) Teologia da pregação
· É interessante a maneira como os reformadores relacionaram a pregação com a Palavra e o Espírito. Em contraste com os entusiastas, segundo os quais o Espírito era um dom imediato concedido à alma humana de modo independente da Palavra e dos sacramentos, Lutero insistiu que o Espírito era dado por intermédio da Palavra: “A Palavra, eu afirmo, e somente a Palavra é o veículo da graça de Deus”. Lutero parece identificar a pregação e a Escritura como sendo “Palavra de Deus”. A voz de Deus é ouvida em ambas. Em outros termos, a pregação da Palavra de Deus é a Palavra de Deus.

· Zuínglio faz uma distinção mais nítida entre a Palavra e o Espírito. A pregação é um testemunho humano sobre Cristo que visa levar-nos a buscar a verdadeira Palavra de Deus interior, dada pelo Espírito. Ele distingue claramente entre a Palavra de Deus externa, que é a pregação humana, e a Palavra de Deus interna, o Espírito Santo (Jo 6.44). A pregação pode apontar para Cristo, mas somente o Espírito conduz a ele.

· Calvino ocupa uma posição intermediária entre os dois primeiros reformadores. Embora os pregadores sejam humanos, todavia a pregação é a vontade de Deus para a igreja e, instigada pelo Espírito, é a boca de Deus se dirigindo a nós. “[Deus] se digna a consagrar a si mesmo as bocas e línguas de homens a fim de que a sua voz possa ressoar nelas” (Institutas 4.1.5). Como Zuínglio, Calvino acentua a origem bíblica da pregação e o testemunho interno do Espírito Santo, mas insiste que o Espírito é dado na pregação ao invés de ficar aguardando oculto no coração.

· O poder da pregação vem do Espírito Santo, que é também o verdadeiro intérprete da Escritura. Se o Espírito não estiver com a Palavra, os sermões, por eloquentes que sejam, serão vazios e totalmente ineficazes. Embora a fé venha pelo ouvir e sem a Palavra a fé seja impossível (Rm 10.17), ela é um dom do Espírito, que abre os ouvidos para ouvir as promessas de Deus. A pregação é um ato humano que não possui nenhuma eficácia intrínseca. Mas quando Deus escolhe a pregação, então ela certamente é o poder de Deus para a salvação.

· A pregação é essencial porque por meio dela Cristo vem a nós com todas as suas graças salvadoras. Entre os benefícios graciosos que recebemos através da pregação estão a união com Cristo, o perdão e a santificação. Ela é também o meio pelo qual Jesus Cristo exerce a autoridade sobre a sua igreja e sobre o mundo. Por isso, a igreja tem a responsabilidade de ouvir os sermões de modo ativo e inteligente.

· Calvino insistiu que a pregação é especificamente uma explanação e aplicação da Escritura. Os pregadores devem ser versados nas Escrituras. Eles são embaixadores da Palavra e, portanto, devem ser santos, perceptivos, preparados e, acima de tudo, bons mestres. Eles são os “ministros da Palavra de Deus”.

· Por causa da importância da Palavra, a pregação se tornou o elemento central do culto reformado, ao lado da ministração dos sacramentos. O culto tinha duas partes: a liturgia da Palavra e a liturgia da Mesa do Senhor. A pregação se caracterizava pelos seguintes atributos: bíblica, expositiva, doutrinária e prática. A fiel exposição das Escrituras veio a ser considerada a primeira das “marcas da igreja”.


Fonte Portal Mackenzie
 http://www.mackenzie.com.br/7072.html

JOÃO CALVINO

Seria necessário maior espaço
para expormos convenientemente o tema
proposto, pela sua abrangência, profundidade e influência.
Mas desejamos fazer algumas observações
importantes para, dessa forma, estimular
os leitores a ler e estudar João Calvino. 

 

João Calvino é uma figura não só controversa, mas ainda muito desconhecida e mal compreendida por muitos. Nesta data importante para os calvinistas de todo o mundo, não é exagero afirmar que a história da teologia pode ser dividida em pré e pós João Calvino, devido ao seu legado teológico. A abrangência e influência de seu pensamento fazem dele um dos principais teólogos de todos os tempos da Igreja Cristã.
Foi a mente brilhante de João Calvino que cristalizou a Reforma Protestante. O calvinismo não foi um movimento teológico passageiro. É impossível fazer teologia de modo responsável sem interagir com o legado de Calvino. O calvinismo é um modo completo de ver, entender e existir; é um sistema que envolve todos os aspectos da vida humana.
Embora a concepção popular do pensamento teológico de Calvino seja a de um sistema rigorosamente lógico, centrado sobre a doutrina da predestinação, isto não é verdade. Falar de Calvino como um teólogo sistematizador implica em um grau de afinidade com o escolasticismo medieval que contradiz suas atitudes conhecidas. Também sugere um deslocamento significativo entre Calvino e sua cultura, que não percebeu que nenhuma razão particular para produzir obras de “teologia sistemática” – um gênero literário que, de qualquer modo, estava firmemente identificado com a preservação do tão desprezado escolasticismo.

 
A obra teológica de Calvino

A obra magna da exposição do pensamento teológico de João Calvino é conhecida pelo nome de As Institutas. Em importância, influência e qualidade, essa obra não possui rival na história da teologia. Ela poderia ser comparada, talvez, à Cidade de Deus de Agostinho, ou a Summa de Tomás de Aquino, possivelmente à Dogmática Eclesiástica de Karl Barth.
 Entretanto, a todas essas a obra-prima de Calvino supera. As Institutas são um livro onde encontramos não apenas o melhor compêndio de teologia cristã, segundo alguns teólogos, mas também a base de uma cosmovisão cristã, cuja abrangência e consistência são sem igual na história da igreja. Ele ainda produziu comentários sobre quase todos os livros do Novo Testamento (exceto 2 e 3 João e Apocalipse) e, no Antigo, escreveu sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e sobre os profetas maiores e menores (Isaías e Malaquias). A série Corpus Reformatorum contém 872 sermões de Calvino.
A biblioteca de Genebra possui 2035 desses sermões em manuscrito. Ele também publicou folhetos e tratados com temas apologéticos (contra católicos e anabatistas) e de assuntos gerais sobre a Reforma da Igreja. Um dos mais conhecidos é o tratado sobre a Ceia do Senhor (escrito quando estava em Estrasburgo), em que combate os pontos de vista do romanismo e do luteranismo e dá o seu próprio ponto de vista sobre a ordenança.
 Através de cartas se comunicou com outros reformadores, soberanos, igrejas perseguidas e protestantes encarcerados, pastores, colportores, e outros. Uma das mais famosas de suas cartas, além da que prefacia a sua obra magna, dirigida ao rei Francisco I, é sua resposta ao cardeal Sadoleto. Este ícone da teologia cristã ainda produziu escritos litúrgicos e catequéticos. Logo depois da 1ª edição das Institutas, Calvino escreveu o seu primeiro “catecismo” a que deu o nome de Instrução de Fé, em 1537, que verteu para o francês em 1538. Em Genebra, escreveu também com outro catecismo, ao qual deu o formato de catecismo mesmo, hoje conhecido como o Catecismo de Genebra. Ali escreveu também uma Confissão de Fé, livro de ordem litúrgica e administração eclesiástica (disciplina), saltério, etc.
Pelo volume de seus escritos se percebe a profundidade de seu pensamento. É certo que as Institutas, obra publicada em sua versão final em 1559, têm sido frequentemente comparadas às outras obras, com suas 512 questões, 2.669 artigos e mais de 10.000 objeções e réplicas - em sua abrangência e influência. Mas isto é confundir puro volume literário e influência histórica com afinidade teológica.
Como um estudo da evolução das Institutas indica, Calvino originalmente concebeu a obra em termos modestos, sem qualquer pretensão à abrangência metodológica. A reordenação do material, entre as edições no período de 1536 a 1559, reflete considerações mais pedagógicas que metodológicas. A preocupação de Calvino é mais humanista que escolástica – ajudar seus leitores, ao invés de impor-lhes um método sobre o pensamento.
 As Institutas de 1559 combinam as virtudes cardeais da educação humanista – clareza e compreensividade – permitindo a seus leitores acesso a uma apresentação clara e completa dos principais pontos da fé cristã, que Calvino desejava que fossem entendidos. Em nenhum ponto há qualquer evidência que sugira um princípio condutor, axioma ou doutrina – exceto a clareza de apresentação – que governa a forma ou a substância da obra.

 
A amplitude
         do pensamento de Calvino

 
Não há uma doutrina central no pensamento de Calvino. Podem-se localizar certos temas nuclearmente importantes, certas metáforas fundamentais, mas a noção de uma doutrina ou um axioma central que o controle não pode ser sustentada. Não há um “núcleo”, nem “princípio básico” ou “premissa central”, nenhuma “essência” do pensamento teológico de Calvino. Todavia, não se pode negar que um dos pilares do pensamento de Calvino é o pressuposto da iniciativa e soberania divinas. Todas as formulações teológicas de Calvino emergem deste a priori.
Diferentemente do que se pensa, não é a doutrina da predestinação que prepondera e governa a soteriologia de Calvino, mas sim o grande mistério da união mística com Cristo da qual, aliás, o Novo Testamento fala com metáforas de profunda intimidade, e que tem sido apontado com um dos temas centrais em Calvino, talvez até a viga mestra de todo o seu edifício teológico.
Ele construiu e deixou este grande legado à igreja, especialmente pela sua apreciação aos textos originais. João Calvino foi um exegeta notável, levando para si o título de exegeta da Reforma, tornando-se o mais importante modelo da aplicação do conteúdo histórico-gramatical, criando um novo modelo hermenêutico para a história da interpretação cristã.
A força do pensamento de Calvino não está na sua capacidade de expressar de modo claro, correto e profundo o verdadeiro sentido das afirmações bíblicas. O pensamento teológico do pastor curador de almas foi expresso com sua visão de teólogo e seu saber de jurista, focada em honrar a Deus acima de todas as coisas. Para ele as pessoas devem buscar a perfeição no cotidiano da vida, honrando a Deus pelas contínuas conquistas advindas do trabalho, pois a sua teologia é aplicada à vida como um todo e para servir à sociedade em geral.

Referências bibliográficas
O Pensamento de João Calvino – Editora Mackenzie
A vida de João Calvino – Editora Cultura Cristã – Alister McGrath
Calvino, Genebra e a Reforma – Editora Cultura Cristã – Ronald Wallace.




Diony Henrique Dias

é pastor da IPRB desde 30/11/2002.
Professor no Seminário Presbiteriano Renovado Brasil Central, em Anápolis, GO
Detentor do prontuário número 1.140.

CONHEÇA AS 95 TESES DE LUTERO

 Muita gente ouve falar de Reforma Protestante, Martinho Lutero, mas não conhece as teses de Lutero, por isso estamos colocando aqui no Blog as teses de lutero.

                                                AS 95 TESES

                                           
1. Ao dizer: “Fazei penitência”, etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.
4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.
15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.
17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.
18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.
19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.
20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?
30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.
31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.
34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.
36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.
39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.
40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.
42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.
46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.
47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.
48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.
49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.
50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.
53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.
56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.
61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.
64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.
65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.
66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.
68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.
70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.
71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,
74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.
75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.
77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.
78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I Coríntios XII.
79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, eqüivale à cruz de Cristo.
80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.
81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.
82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?
83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?
84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?
85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?
88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?
90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.
91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz!
93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz!
94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno.
95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.

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